Confunda Movimento Com Progresso Sim, Gostoso Demais
Confunda movimento com progresso sim, gostoso demais #
Excerpt #
Por acaso alguém sabe realmente para onde estamos indo?
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É mais meu o que sonho do que o que toco.
—
Jorge Drexler
Uma frase me assombrava na minha vida corporativa. “Não confunda movimento com progresso.” Esta, inclusive, é uma daquelas frases que ninguém sabe realmente de onde veio. Dizem que é do guru dos negócios Peter Drucker, mas ela também foi citada em um daqueles tais discursos de formatura americanos que comentei no episódio sobre propósito, desta vez o de Denzel Washington na Dillard University, em 2015 1.
Não confunda movimento com progresso.
Quando eu estava lá na firma, lotado de coisas para fazer, surtado, aparecia um fantasminha do Denzel Washington no meu ombro.
Nesse mundo de mensagens de textos, tweets e twerks em que vocês cresceram, lembrem-se: só porque se está fazendo mais coisas, não significa que se está realizando muito mais. Não confunda movimento com progresso.
Eu estava fazendo tudo errado! Priorizando errado. Dizendo sim para tudo. Não estava focando no impacto, o grande mantra corporativo. O que eu precisava era olhar para cada coisa na minha lista e dizer não para tudo o que me afastasse do meu Grande Objetivo™. (Que, nem preciso dizer, eu não fazia menor ideia do que era e já falei aqui e no podcast que sou da opinião que nem deveria existir de verdade — mas quem sou eu?)
Então veio 2020 e a Nação do Fogo atacou. Eu não tinha nem movimento, muito menos progresso. Foi quando adotei a expressão “vivendo um dia após o outro”.
Sábado reencontrei um grande amigo (e leitor desta newsletter) que estava terminando o famoso Importante Ciclo da Carreira que tanto falam no LinkeDisney. (o dele era grande mesmo) Durante o papo ele falou, por conta desta tal mudança, “acho que agora estou finalmente saindo de 2020”.
Minha resposta — porque eu sou a alegria das festas — foi contar que já falei essa frase algumas vezes, para depois descobrir que lá estava eu de volta. Acho que já comentei isso aqui na newsletter, assim como já contei que todo mundo (incluindo eu) tenta fingir que 2020 não deixou marcas na gente. Contamos que foi uma fase ruim, mas que agora voltamos ao de sempre. E cada um, pelo menos uma vez, deve ter dito “agora ficou pra trás, ufa”.
Nas vezes em que era eu dizendo “pronto, acabou 2020”, hora de olhar pra frente, pensei nas palavras de Denzel Drucker e prometi que desta vez faria diferente. Eu ia ter uma coisa que nunca tive na vida: um plano. Prioridades, impacto, listas, mapas. Eu ia parar de reagir, sair do curto prazo, não viver mais um dia após o outro!
O resultado… é que eu não fazia nada. Talvez fosse apenas a paralisia pelo excesso de escolhas. O mundo todo como possibilidade. Eu precisava de progresso e tudo o que eu conseguia pensar eram coisas que iam me botar em movimento — algumas que eu sabia serem inúteis.
Eu sou bom em apontar como uma ideia pode dar errado. Muito bom. E ali estava eu fazendo aquilo para mim mesmo, mostrando como tudo era sem sentido, o mercado não está pronto, as pessoas são burras e tudo mais. Eu não tinha o plano perfeito, até porque como eu vou ter um plano se não sei onde eu quero chegar? Já sei! Um plano para ter um plano! (eu sei, eu sou um gênio, não precisa me dizer)
Um belo dia, resolvi mudar. E fazer tudo o que eu queria fazer.
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A linha de montagem de uma campanha publicitária funciona mais ou menos assim: o cliente traz um problema de comunicação a ser resolvido. “Vender mais sabão em pó”, por exemplo. O departamento de planejamento vai olhar o contexto do cliente e dos consumidores para criar o melhor plano possível. Ainda no nosso exemplo, analisar a sociedade, taxas de emprego, tempo de deslocamento para o trabalho, burnout… e apontar que muitas mães não querem que as crianças se sujem porque dá muito trabalho lavar a roupa. Fora que é uma frase bem de mãe, né? “Cuidado mininu, vai se sujar todo!” Só que uma criança que sai para brincar e se suja é uma criança feliz.
A estratégia, portanto, é explorar esta tensão, no linguajar publicitário. Agora é só a criação ter uma ideia genial para fazer todo mundo chorar e comprar muito detergente.
Na prática, a teoria é outra. A maioria das campanhas são criadas, sim, seguindo essa linha de montagem. Mas várias das propagandas mais criativas do mundo foram só uma ideia solta que alguém teve. Trabalhada, melhorada, mas sem plano. Só que não dá pra chegar no cliente e dizer “cara, a gente pensou que ia ser bem doido…” e pronto. Não vivemos mais neste mundo. Aqui somos data-driven. É por isso que na publicidade existe uma expressão chamada planejamento-reverso. É ligar pro time de estratégia, os planejadores e dizer “cria uma defesa show dessa minha ideia”. Olha pra ideia pronta e explica qual foi o plano pra gente chegar ali.
Faz parte, job bom é job no ar.
Peter Drucker foi um consultor de sucesso e fala coisas realmente úteis. Eu li seu livro mais famoso quando gerenciava uma equipe gigante e ele traz aprendizados que fizeram diferença, principalmente quando o assunto é priorização e tomada de decisão. Seus conselhos nascem de décadas de trabalho com executivos de sucesso, buscando encontrar o que eles têm em comum.
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Denzel Washington é um cara de sucesso, mesmo tendo que superar dificuldades pessoais para chegar lá. Ele conta que um dia recebeu este conselho da mãe que mudou sua vida: “Não confunda movimento com progresso”. O resto é história.
É só que eu não consigo parar de pensar que todas estas histórias são só planejamento reverso. “Ei, Denzel, como você conquistou tudo isso enquanto vários tentaram e fracassaram?”. Ora, ora. É porque eu foquei no que era necessário. Todo dia. “Eu não desisti. Eu não recuei.”
Os CEOs com quem Peter Drucker trabalhou priorizam sempre o que é melhor para a empreitada. Contratam as melhores equipes. Fracassam rápido. São bons em alocar recursos.
Tá, muito legal. Mas e na prática?
Se eu der esse guia na mão de 100 novos executivos, quantos vão estar bem em 10 anos?
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Este ano resolvi me colocar em movimento. Não sei se é progresso, porque eu acho que na verdade-verdadeira a gente só consegue ver isso lá na frente, discursando para formandos ou lançando livros contando como ter sucesso.
Eu não tenho planos nem sei onde está o impacto que merece meu foco. Eu tenho valores, eu tenho coisas que acredito na minha profissão. Mesmo que não seja considerado “boa prática de mercado”, porque sei que muito do que se fala por aí é só retro-planejamento. É só culto à carga: olhar o resultado e os rituais e tentar entender as causas.
Porque cá entre nós, o que é progresso? Tudo precisa virar produto, meta, índice, growth? Progresso é uma palavra inventada para quem precisa medir tudo, qualificar tudo que se faz. Imagine que, ao começar a escrever esta newsletter, eu ficasse pensando a cada parágrafo “mas estou progredindo rumo a uma boa newsletter?”.
Hoje minha abordagem é de que movimento é progresso. Fazer é progredir. Eu só vou saber fazendo.
Somos uma espécie em viagem
Não temos posses, apenas bagagem
Vamos com o pólen no vento
Estamos vivos porque estamos em movimento
Por hoje é só #
Cuidem de si, cuidem dos seus. Mantenham-se em movimento. Até o próximo.
crisdias