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@simas_luiz: 1- Vou fixar esse fio sobre chuvas na cidade do Rio, já que a coisa não para. Vivaldo Coaracy - primeiro sujeito que deve ser lido para se estudar a história da cidade - fala…
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1- Vou fixar esse fio sobre chuvas na cidade do Rio, já que a coisa não para. Vivaldo Coaracy - primeiro sujeito que deve ser lido para se estudar a história da cidade - fala do espanto do Padre José de Anchieta com fortes chuvas que alagavam o Rio de Janeiro na década de 1570.
2- Vieira Fazenda, outro clássico, cita uma chuvarada que não saiu da memória da cidade durante muito tempo. Foi durante a invasão dos piratas franceses de Dugay-Trouin, que sequestrou a cidade (sim, a cidade toda) no meio do temporal. Isso foi em 1711.
3- A enchente de 1811 é talvez a mais lendária da cidade. Recebeu até nome: enchente das “Águas do monte”. Morreu gente, desabou parte das muralhas da Fortaleza de S. Sebastião. D. João mandou abrirem todas as igrejas para acolher desabrigados. Parte do Morro do Castelo desabou.
4 - Em 1864 os cariocas apelidaram outra enchente: foi a “chuva de pedra”, com granizos e os cacetes. A cidade ficou debaixo d´água, casas caíram, igrejas foram destelhadas, bois boiavam. Machado de Assis, nascido em 1839, conta que nunca se esqueceu do dilúvio.
5- Vieira Fazenda cita uma enchente que acabou com uma procissão de quarta-feira de cinzar e destruiu a cidade em 1854. Fala de um dilúvio que em 1897 destruiu uma festa no Itamaraty e arrasou parte do centro.
6- Olavo Bilac fala, daquele jeitão dele, “das ruas transformadas em rios, as praças, mudadas em lagoas, os bondes metamorfoseados em gôndolas, - e homens e cachorros nadando, como peixes, pela vasta extensão das águas derramadas”. Isso foi em 1904, ano da reforma Passos.
7 - Lima Barreto tem talvez a mais famosa crônica sobre enchentes na cidade, de 1915. Lima acusou Pereira Passos diretamente: “O prefeito Passos, que tanto se interessou pelo embelezamento da cidade, descurou completamente de solucionar esse defeito do nosso Rio. "
8 - Em 1906, parte dos morros da Gamboa, Santa Teresa e Santo Antônio foram arrasados pelas águas. O Mangue transbordou. Em 1924, parte do São Carlos veio abaixo. Marques Rebelo citou enchentes bíblicas em suas crônicas.
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More from @simas_luiz #
Jan 6
Vocês sabiam que o Dia de Santos Reis está na origem do Bafo da Onça, instituição das mais importantes na história do carnaval da cidade? Aliás, o carnaval carioca, oficialmente, deveria começar hoje por causa do Bafo. Segue o fio.
O Bafo foi fundado dentro de um botequim do Catumbi, pertinho da Marquês de Sapucaí, em 1956. Seu principal fundador foi um carpinteiro chamado Tião Maria; sujeito que, no carnaval, formava um bloco do eu sozinho e costumava sair pelas ruas do bairro fantasiado de onça. (+)
Seu Tião tinha o hábito, depois de um período contrito, de começar a tomar umas biritas no Dia de Reis. Para ele, devoto dos Santos Reis a data marcava o fim do Natal e o início de fato do carnaval. Os trabalhos só eram encerrados na Quarta-feira de Cinzas. (+)
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Jan 4
Digo há muito tempo o seguinte: há um preconceito contra cantores e compositores de samba de enredo na música popular brasileira e, inclusive, na historiografia do samba. É como se o samba de enredo fosse um gênero à parte, circunstancial aos desfiles, menor. (segue)
Durante os anos de pesquisa para o livro Samba de enredo: História e arte (com Alberto Mussa), cansei de ver em jornais de época Silas de Oliveira definido como “grande compositor DE SAMBA DE ENREDO”. Nunca como “um grande compositor da música brasileira”. Por quê? (+)
Exemplifico. Dominguinhos do Estácio era definido com grande cantor de samba de enredo. Sim, mas Dominguinhos era um grande cantor. Ponto. O samba de enredo é um gênero maior da música popular urbana do mundo. Épico, quando o padrão da música urbana é o lírico. (+)
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Nov 21, 2023
Amizades, um fio sobre a proibição do jogo do bicho. Como estou mofando no aeroporto, dá pra consultar minha anotações e fazer. A proibição se concretiza pelo Decreto n° 113, de abril de 1895; menos de três anos depois do início da atividade no zoológico de Vila Isabel. (+)
De jogo lícito, criado no zoológico com autorização da Intendência Municipal, o sorteio passou a ser muito rapidamente visto como um sintoma de degeneração dos costumes, vício destruidor de famílias e coisas do tipo. (+)
Descrito inicialmente como uma diversão das melhores famílias cariocas em um jardim dedicado ao embelezamento da cidade, logo passou a ser descrito como um vício capaz de transformar o zoológico num “valhacouto de desclassificados” e “antro da jogatina”. (+)
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Nov 6, 2023
Me perguntaram aqui, por conta da série “Vale o escrito: a guerra do jogo do bicho”, como funciona o jogo propriamente dito. Não é tão simples, mas dá para explicar o básico. Segue o fio. (+)
São 25 bichos. Cada um representa um grupo com 4 dezenas, de 00 a 99. O avestruz é grupo 1, dezenas 01,02,03,04. A águia é grupo 2, dezenas 05, 06,07,08. O grupo 3 é do burro, dezenas 09,10,11,12. A borboleta é grupo 4, dezenas 13,14,15,16. Por aí vai, até o gr 25 (vaca). (+)
E a centena? É só adicionar um número de 0 a 9 antes das dezenas. Se 13 é dezena da borboleta, 813 é centena da borboleta. Se 12 é dezena do burro, 712 é centena do burro. O milhar segue o mesmo padrão, com a diferença de que é preciso acrescentar dois números, de 00 a 99. (+)
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Nov 2, 2023
A melhor história de cemitério que conheço envolve os velórios do cantor Blecaute, um dos maiores intérpretes de marchinhas de Carnaval de todos os tempos, falecido em 1983. Sim, Blecaute teve dois velórios ao mesmo tempo. (+)
O primeiro velório foi uma fuzarca. Em certo momento um corneteiro solou o samba ‘General da Banda’, maior sucesso do falecido, com a solenidade exigida pela ocasião. Logo depois, atacou de ‘Maria Escandalosa’, outro sucesso do cantor, e transformou o cemitério em baile. (+)
O lance mais inusitado da morte do Blecaute, entretanto, não foi o baile no cemitério. Acontece que o enterro foi no São João Batista e um fã mais afoito, disposto a se despedir do ídolo, encheu a cara, errou de cemitério e parou no Caju, ao lado companheiros de copo. (+)
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Aug 22, 2023
O EXUSÍACO E OXALUFÂNICO NOS GRAMADOS O futebol - criado pelos ingleses como um jogo oxalufânico - virou no Brasil, ao ser devorado pelas características culturais dos brasileiros, um jogo em que o oxalufânico foi desequilibrado pelo exusíaco. (+)
Oxalufã é o orixá que tem como positividade a paciência, o método, a ordem, a retidão e cumprimento dos afazeres pré-determinados. Tudo que é contrário a isso representa a negatividade que pode prejudicar seus filhos. (+)
Diz um mito de Ifá que, quando se desviou da missão a ser executada e tomou um porre de vinho de palma, Oxalufã quase comprometeu a própria tarefa da criação do mundo. (+)
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