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Corretoras De Câmbio Abrem Contas Em Banco Gringo. Por Que Isso É Uma Boa Notícia Investimento No Exterior Valor Investe

Corretoras de câmbio abrem contas em banco gringo. Por que isso é uma boa notícia | Investimento no Exterior | Valor Investe #

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B&T e Treviso se tornam clientes do BNY Mellon, beneficiadas por regulação que dispensa intermediário nacional; participantes esperam repassar a clientes economia de US$ 15 a US$ 20 por transação


A B&T Câmbio e a Treviso são as primeiras corretoras de câmbio do país a abrirem uma conta corrente em moeda estrangeira em um banco do exterior. Ambas firmaram parceria com o Bank Of New York Mellon (BNY Mellon) e, a partir de agora, irão operar remessas diretamente com a instituição, sem a necessidade da intermediação de um banco nacional. Outras, como a Advanced, avaliam a possibilidade.

Isso é uma boa notícia para os consumidores, pois permite que esses agentes de câmbio ofereçam taxas mais competitivas e entrem no segmento de remessas entre pessoas físicas, que vem sendo explorado por grandes fintechs internacionais, como a Wise e a Western Union. Bancos nacionais especializados em câmbio, como Daycoval e grupo Travelex Confidence, e, mais recentemente, contas globais de investimento lançadas por grandes bancos e corretoras, também disputam espaço no mercado.

O segmento de remessas no Brasil soma cerca de US$ 5 bilhões a US$ 7 bilhões anuais, considerando entradas e saídas de valores, principalmente vindos dos EUA e Portugal. Essas transferências entre pessoas englobam gastos com intercambio, manutenção de residente, remessas para pessoas que estejam em viagem, entre outras finalidades. Apesar de pequeno em comparação ao mercado global, ele é relevante para os agentes de câmbio que atuam no país, especialmente porque fidelizam clientes e fazem com que busquem outros serviços na instituição financeira. A estimativa é que o tíquete médio dessas operações seja de US$ 500.

Até 2021 a legislação brasileira determinava que as operações de corretoras de câmbio precisavam ter um banco nacional como intermediário, o que implicava em mais custos e tempo para a concretização das operações, que eram concluídas geralmente só 24 horas depois. “Agora, as remessas serão acompanhadas em tempo real pelo banco estrangeiro. Teremos atendimento via API e poderemos informar os clientes instantaneamente sobre as movimentações”, diz Túlio Santos, presidente da B&T.

O executivo estima que a redução do custo por operação fique entre US$ 15 e US$ 20, o que na cotação de hoje significa cerca de R$ 70 para operações de US$ 1 mil. Em 2023, a B&T Câmbio transacionou R$ 7,7 bilhões e realizou 95.683 operações. A corretora estima que cerca de R$ 7,1 milhões em spreads bancários deixem de ser cobrados dos clientes da corretora agora que o canal direto com a instituição estrangeira está estabelecido.

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O executivo da B&T ressalta que o mercado de câmbio brasileiro é único no mundo, e isso contribuiu para que o processo de aprovação no BNY fosse concretizado só agora, três anos depois da regulamentação. “Nos Estados Unidos não existe a figura de corretor de câmbio. Explicamos e mostramos que temos numero de negócios suficientes para manter a conta, e que somos fiscalizadas e autorizadas pelo BC a operar”.

Segundo Kelly Carvalho, presidente da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam), existem hoje no país 48 operadores de câmbio que foram beneficiados pela regulamentação do Banco Central. Ela estima que cerca de metade dos agentes autorizados a operar câmbio tenham condições de abrir uma conta no exterior, e 10% estão a ponto de abrir uma. “Nem todas terão condições. A abertura de conta não é automática. É fruto de negociação e uma série de exigências do banco internacional em relação ao atendimento”. Para ela, o diferencial dos agentes de câmbio não-bancários será o atendimento mais personalizado.

Com esse atendimento, e agora com contato direto com um banco lá fora, essas empresas locais tentam fazer frente à crescente concorrência internacional nesse tipo de serviço. Criada em 2011, a britânica Wise**, por exemplo,** chegou no país em 2016, lançou sua conta multimoeda em 2022 e cresceu rápido. No ano passado, atingiu a marca de 1 milhão de cartões emitidos e, hoje, é a maior corretora de câmbio para pessoas físicas, segundo ranking do Banco Central, o que chama a atenção de outros participantes do mercado. Com processo simplificado e digitalizado, seu foco na transparência de taxas e experiência do cliente, diz Yves Berbert, country manager da Wise no Brasil. Ele acredita que “quanto mais empresas, grandes, pequenas ou médias, operarem no mercado, melhor será a oferta”.

A Wise, que é uma corretora de câmbio e instituição de pagamento, consegue oferecer taxas mais competitivas por conta de sua presença global: a fintech está em 160 países, e tem um sistema que permite que, ao compensar o câmbio entre países várias vezes ao longo do dia, não precise registrar todas as operações no Banco Central, mas apenas o valor que “sobra” do saldo de transações que ocorreram em cada período. É um sistema que está sendo oferecido desde o ano passado para quem deseja ganhar eficiência operacional também, mediante assinatura.

A regulação do BC permitiu aos participantes do mercado que o cliente faça remessas não apenas em seu nome ou de um parente, como para pagar taxas de cursos internacionais ou comprar em agências de viagens lá fora. Contudo, as operações não pode ser maiores do que US$ 50 mil. A Wise vem expandindo esse escopo de atuação.

Novos produtos #

O segmento principal da B&T Câmbio são empresas de pequeno e médio porte, mas isso vem mudando com a evolução da tecnologia e formas de pagamento.

Recentemente, a corretora lançou um app que funciona como a Wise, chamado Easy Remessas. Por meio de uma plataforma em blockchain, o agente de câmbio consegue fechar operações de até 3 mil euros no mesmo dia caso o dinheiro seja depositado na conta até meio-dia.

Além da parceria com o BNY Mellon, a Treviso tem uma parceria com a Mastercard para pagamento direto no exterior. As remessas na corretora podem ser feitas por Whatsapp ou PIX e o destinatário recebe o dinheiro no mesmo dia.

Caminho livre para compra de câmbio #

Como as corretoras não são mais obrigadas a usarem um intermediário nacional em suas operações, se livram de outro problema que contribuía para que suas taxas não fossem competitivas: a exigência do banco intermediador de que comprasse câmbio com ele.

Ou seja, agora, corretoras que se associarem a um banco estrangeiro de forma direta poderão buscar cobertura cambial para suas operações no mercado de capitais, por meio do pregão de dólar eletrônico da B3. As corretoras já podiam operar no mercado. Mas, na prática, os bancos nacionais parceiros não deixavam.

A transação, aponta Santos, faz bastante diferença para pequenas corretoras. “Quando buscamos comprar US$ 1 milhão, o banco fica com receio de vender moeda e não cumprirmos com a liquidação da operação. Mas na B3 não tenho esse problema: o vendedor não sabe para quem está vendendo e não sabemos quem está comprando, pois a bolsa garante a transação mediante um depósito. Se não pudéssemos recorrer a essa opção, teríamos de abrir contas em diversos bancos e ter garantia em cada um deles”.

Dolar turismo cambio — Foto: Getty Images

Dolar turismo cambio — Foto: Getty Images